terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Um comboio e um cigarro.



"A vida transforma-se numa estação de comboios e o vento anuncia-nos a chegada antes do alcance do olhar."... terminava assim Matilde de ler mais um capítulo do seu novo livro, momentos antes de apanhar pela sua primeira vez na vida um comboio com destino marcado para Lisboa. A noite já tinha tropeçado no Sol e poucos eram os passageiros que em terra esperavam como Matilde pela hora prometida. A sua ansiedade era tremenda, Matilde sentia naquele momento um nervoso miudinho a percorrer-lhe todo o corpo e um autêntico formigueiro nos pés, fazendo com que não parasse quieta um segundo de um lado para o outro no meio da estação, olhando constantemente para o negrume da noite na esperança de ver o brilho de uma luz diferente das outras. Com um casaco verde comprido até ao joelho, um carapuço cheio de pêlo polar a proteger-lhe a cabeça do frio, uma malha em tons de creme que a aconchegavam por dentro, umas calças de ganga e uma mochila às costas, Matilde sentia-se mais do que preparada para enfrentar o frio daquele noite de Inverno e os seus novos desafios profissionais que a esperavam do outro lado da linha. Lisboa, tinha-lhe sido prometida após deixar para trás família e amigos. Depois da tão insofrida espera ter terminado, Matilde como rapariga prática que era, colocava logo em acção o seu terrível hábito rotineiro de querer escolher um lugar junto à janela, esquecendo-se de todo o nervosismo que até então a tinha consumido. A única companhia que tinha do outro lado daquela janela de ecrã escuro eram as luzes das casas, das ruas, que à distância assemelhavam-se a promessas falhadas por quem nunca tinha lutado pelos seus sonhos, ficando à margem da cidade prometida... Matilde queria mais, queria pertencer à cidade das luzes, da agitação, das filas de espera, das pessoas... das promessas. E durante mais de metade do tempo da sua viagem, Matilde entreteve-se a desenhar no seu tão adorado bloco cor-de-rosa de folhas brancas, enquanto esperava ansiosamente por fumar o seu primeiro cigarro naquela que seria a sua primeira estação prometida que os ventos anunciavam para lá do alcance do seu olhar. Será que o nosso destino é uma eterna promessa? Devemos nós sair da nossa zona de conforto e agarrar o "inagarrável"?

1 comentários:

Daniela RC disse...

Adorei o texto.

Adorei o seu blog e já estou a seguir :)

beijos,
Daniela RC
http://ddocesonhadora.blogspot.pt/

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