segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Um amigo e um cigarro.



"Tenho de aprender a respirar o ar que já não partilhamos."... dizia ela para o seu jovem coração já mastigado com a fervura da juventude, depois de terminar a leitura de mais um capítulo do seu novo livro. Para Matilde, ler é como estar apaixonada, é sentir borboletas na ponta dos seus dedos até ao mar verde esmeralda dos seus olhos, é encontrar um novo mundo e refugiar-se nele. Matilde nunca tivera a noção das horas que depositava em cada viagem, de capítulo em capítulo, de livro em livro até voltar a se encontrar novamente em si. Em todas as viagens que seguia, depois de apanhar a sua boleia na mesa de cabeceira com destino marcado à cama ou ao seu sofá da sala. Matilde sempre perdia meio segundo para tentar encontrar os seus tão bem feitinhos óculos que lha davam um ar de intelectual, feitos com a massa mais fina e leve, de cor branca, que lhe assentavam que nem uma luva. Com um rosto de princesa, os lábios mais bem desenhados que deus alguma vez fizera, com um pequeno sinal entre o seu nariz e o lábio, uma pele de invejar o toque das pétalas de uma rosa, Matilde possuía todas as características de um anjo descido à terra. Era impossível passar por ela na rua e não lhe ficar indiferente... e mesmo assim, ele partira e ela tivera de voltar a aprender a respirar o velho ar. Como sempre, no fim de cada alucinante e apaixonante viagem, um cinzeiro e um único cigarro a esperavam na estação para lhe dar as boas vindas. O fumo branco que lhe saia por entre os lábios e narinas tornava-se a sua única consolação, após mais uma viagem que a deixou sozinha em terra. Será que também adoram viajar como a Matilde o faz? Será um simples livro capaz de se tornar o nosso melhor amigo?

1 comentários:

Unknown disse...

Adoro! :)
Beijinho

goldentouch-byandreiaguerreiro.blogspot.pt

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