quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Uma escolha e um cigarro.



"Sigo o meu caminho como se não pudesse mudar de rota."... esta foi a última publicação que Matilde tinha visto momentos antes de desligar a sua sessão do instagram e voltar ao estudo intensivo para a frequência de odontologia que iria ter na próxima semana. Por vezes, Matilde sentia-se tão perdida e afundada entre tantos livros de autores experts nos assuntos, apontamentos todos bonitos, fotocópias e pesquisas na internet... havia tanto para decorar e tão pouco tempo para o conseguir fazer. Estivesse ela na biblioteca da escola ou na secretária do seu quarto alugado, tudo lhe lembraria uma ilha deserta onde os barcos avistados não passavam de meras ilusões de salvamento. "O pior já passou..." - dizia ela para si, depois de ter concluído com êxito o seu primeiro ano da licenciatura e de ter concorrido, no segundo ano, a uma bolsa de Erasmus para Praga, capital da República Checa, com a necessidade emergente de se poder libertar momentaneamente de todas as escolhas que os pais lhe tinham impingido a vida toda. Ou não viesse Matilde de uma família bem estruturada, com um bom estatuto social e uma excelente carreira ao nível da medicina. Desde pequena que sempre ouvira dos seus pais: "Matilde, um dia serás uma médica de sucesso como o pai...", "Matilde, tens de te aplicar para conseguires entrar na faculdade de medicina..." ou então "Quando fores médica, os pais vão ter muito orgulho em ti...", frases que ecoam na sua mente até aos dias de hoje. Matilde sentia-se sem controlo do seu próprio destino, todas as escolhas que haviam para fazer, já tinham sido feitas por terceiros completamente equivocados sobre os seus interesses e desejos. Aquela frase que lera no instagram assentava que nem uma luva à descrição da sua jovem vida... tudo o que ela precisava era de um único cigarro para esquecer a terrível sina que era viver um caminho que não era o dela, e este era um dos piores castigos que a vida lhe dava. Será que os pais de Matilde queriam mesmo o melhor para ela? Será que os pais sabem mesmo o que é melhor para nós?

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