sábado, 29 de novembro de 2014 0 comentários

Um filme e um cigarro.



"I don't want to be young but I don't want to die I can whisper in the wind we can smoke out every night..." Matilde, desde que se lembra, sempre foi uma viciada do pior em filmes de romance, drama e comédia. Para ela, encontrar estas três categorias reunidas em um só filme tornavam-no logo à partida num filme "top" ou de eleição na sua cabeça. Sempre que assistia a um filme no seu tão adorado e leve computador de cor cinza prata, perdida entre mantas e almofadas com bordados de flores da sua cama, Matilde tinha a terrível mania de se envolver com qualquer história de filme e vivê-la como sua, sentindo ao pormenor tudo o que as personagens encenavam do outro lado do ecrã. E afinal, quem nunca sentiu essa sensação de querer invadir uma história de filme e torná-la sua? Questionava-se ela depois de cada sessão de cinema ao dirigir-se para a sua varanda do sétimo andar. Enrolada numa das mantas axadrezadas de cor creme, vermelha e preta que tinha, com os seus pés de princesa descalços, um cigarro seguro nos dedos da mão direita e uma chávena de café presa à sua mão esquerda com unhas ainda por pintar, uma combinação quase perfeita para quem desejava fitar o horizonte com a ideia que a sua vida daria um filme quase tão igual àquele que assistira no conforto do seu quarto despido por quatro paredes brancas. Matilde sempre amou a sensação de poder percorrer toda a sua casa com os seus pés descalços e sentir a frescura dos tacos de madeira do chão que a faziam sentir-se livre. Estes sempre foram alguns dos pequenos prazeres que Matilde retirava da sua vida, porque nunca se sabe o quão rápido tudo pode terminar até acontecer. E a vida é feita de momentos, tal e qual como um filme.
quarta-feira, 26 de novembro de 2014 0 comentários

Um gira-discos e um cigarro.



"People are strange when you're a stranger faces look ugly when you're alone... When you're strange, no one remembers your name..." susurrava já Matilde por entre os seus dentes muito antes de colocar a agulha do gira-discos sobre uma cópia quase perfeita de vinil dos The Doors, uma herança que recebeu do seu avô. Como qualquer um de nós, Matilde também sofria com a depressão dos aclamados "dias cinzentos", transfigurando qualquer lugar, qualquer hora, qualquer rosto num imperfeito perfeito desconhecido. As quatro paredes de cor branca tal como a porta, delimitavam a fronteira de segurança imposta pelo seus pensamentos e medos. O único pormenor que ressaltava à vista de quem invadisse o seu refúgio seria um pequeno quadro pintado à mão, afixado por cima da sua cama. O desenho era de um cavalo pintando a dois tons, de branco e azul. Um cavalo de príncipes e princesas que sobrevoava os seus sonhos e os sonhos de quem um dia já pertenceu ao seu mundo. Uma lembrança única para quem era convidado a entrar. Em certos dias como este, Matilde sentia-se uma estranha por completo dentro de si mesma, querendo destruir todas as lembranças de promessas feitas, todos os sonhos desenhados e arquitectados na perfeição pela sua cabeça... querendo apenas fugir das responsabilidades impostas pela sua idade e coração. Um cigarro é tudo o que ela precisa, apenas um cigarro para esquecer. Matilde tem por hábito lançar ao ar a seguinte frase: "é tão difícil ser eu" e por vezes ou muitas das vezes, desejamos tanto mas tanto ser outro alguém. O que deverá fazer Matilde para ultrapassar os seus "dias cinzentos"? Será que os nossos medos são mais fortes que os nossos sonhos? O que diriam a Matilde?

terça-feira, 25 de novembro de 2014 2 comentários

Um desabafo e um cigarro.



"I'm in love with you and you will never know but if I can't have you I'll walk this life alone spare you the rising storms and let the river flow..." esta é sem dúvida uma das melhores frases musicais para definir o seu coração. Para Matilde, falar de amor não é fácil. Na maioria das vezes, prefere fumar um único cigarro e colocar um ponto final sobre o assunto. No seu entender, fumar é nada mais nada menos que respirar o fumo branco para alcatroar os seus pulmões e coração deixando-o pálido de sentimentos que não consegue controlar. Ela nunca foi rapariga de exigir muito, queria somente um pouco de amor de quem optou por amar outra pessoa, deixando bem claro na sua cabeça que nem sempre só amar chega. Por vezes, é preciso um pouco mais. No mais íntimo do seu interior, Matilde sabe com todas as suas certezas de mulher apaixonada que já encontrou a sua alma gémea e que esta não lhe está destinada a permanecer do seu lado. Tornou-se mais fácil alimentar o seu vício animalesco em nicotina do que voltar a ler nas estrelas a promessa de encontrar um novo caminho para dentro da tempestade que é o amor. E apesar de tudo, são os casos fugazes e pontuais que marcam e alimentam os últimos anos de vida de Matilde, abraçando pequenos restos de amor aqui e acolá. Será que Matilde deverá somente aceitar o amor que acha que merece? Ou deverá ela abrir mão do seu único amor e tentar ser feliz?
segunda-feira, 24 de novembro de 2014 3 comentários

Um autocarro e um cigarro.



"The truth is I'm better on my own and I don't want to live in the past..." esta foi a primeira frase que chegou aos ouvidos de Matilde pouco depois de se sentar no lugar que escolhera para aquela viagem. E sempre que viaja em transportes públicos coloca em prática o seu terrível hábito rotineiro de escolher um lugar ao fundo, perto da janela para que os seus olhos cor de esmeralda se possam perder em todos os rostos estranhos da rua e os seus edifícios. Para Matilde, aquela viagem de autocarro representa os seus quinze minutos de prazer, na qual se desliga do resto do mundo e se afunda em si, depois de mais um dia de Inverno no qual o Sol resolveu brilhar. A música que passa na rádio, as vozes distorcidas dos estranhos que a acompanham, os sons lá de fora são tudo o que ela precisa para relaxar e pensar em si. Afinal, o mesmo acontece com qualquer um depois de pressionar o botão "play" do seu MP3 ou Ipod e colocar os seus "phones" nos ouvidos. Matilde, ao contrário dos outros adolescentes da sua idade, prefere o som da vida, da rotina, do autocarro. E o lugar que escolhera para a viagem daquele dia não era o mais reconfortante, mas era o que melhor visão oferecia do lá de fora. Matilde, por vezes, questiona-se sobre o significado do termo rotina. O que deverá fazer Matilde, manter uma rotina estável e segura? Ou quebrar as regras do jogo e desafiar o destino, o imprevisível?
sábado, 22 de novembro de 2014 0 comentários

Uma cama e um cigarro.



"Que saudade eu tenho daquelas noites de Verão, havia sempre solução para nós... havia..." ouvia ela através do seu smartphone aconchegado na mesa de cabeceira ao lado da cama que reproduzia um dos últimos álbuns da sua banda preferida, os Expensive Soul, enquanto que sentada aos pés da sua cama, matava o seu último cigarro daquela noite. A música penetrava-lhe os poros assim como o frio do inverno teimava em invadir o seu quarto e congelar os seus pensamentos. Ela odiava o Inverno e tudo o que lhe fizesse lembrar dele. Todas as noites, antes de ir dormir, Matilde tinha o terrível hábito de se deitar por cima da cama enquanto que os seus olhos verdes cor de esmeralda reflectiam o vazio do tecto do seu quarto no qual construía os planos para o próximo dia, para toda a semana. O que Matilde nunca aprendera era que a vida encarregava-se sempre de lhe estragar os planos, porque tanto a vida como o tempo não são bens adquiridos como ela pensava. Será que Matilde deverá continuar a construir planos para a sua vida? Ou deverá ela viver o momento?
quinta-feira, 13 de novembro de 2014 0 comentários

Uma janela e um cigarro.


"De vez em quando precisavas de voltar a ti, relembrar-te, visitar-te."... dizia ela a si própria enquanto queimava e inalava as suas últimas lembranças amorosas falhadas a meio de cada cigarro pela manhã. O fumo branco batia-lhe no rosto como perfume de lágrimas secas, consumidas pelo vício animalesco que tinha em nicotina, enquanto que o seu olhar esverdeado esbatia as sombras dos outros prédios à sua volta. Deslumbrava-se com pouco e todos os dias antes de ir tomar o seu duche, entretinha-se a olhar para a vida lá fora, sentada no chão de madeira do seu quarto, saboreando a forma como recebia aquela aragem fria que lhe batia sobre os seus pés de princesa, vinda da janela de madeira pintada de branco, constituída por oito vidros rectangulares que a separavam do resto do mundo. A vida dos outros quase sempre lhe parecera mais interessante que a sua, fitava-os com o olhar do topo do seu apartamento e imaginava na sua cabeça como seria bom largar tudo o que tinha para viver a vida de outro alguém... estes sempre foram os pensamentos que acompanhavam Matilde antes de cada dia de trabalho.Será que se pudesse, Matilde trocaria toda a sua vida por outra? Será a vida dos outros melhor que a sua?
 
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