quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Um gira-discos e um cigarro.



"People are strange when you're a stranger faces look ugly when you're alone... When you're strange, no one remembers your name..." susurrava já Matilde por entre os seus dentes muito antes de colocar a agulha do gira-discos sobre uma cópia quase perfeita de vinil dos The Doors, uma herança que recebeu do seu avô. Como qualquer um de nós, Matilde também sofria com a depressão dos aclamados "dias cinzentos", transfigurando qualquer lugar, qualquer hora, qualquer rosto num imperfeito perfeito desconhecido. As quatro paredes de cor branca tal como a porta, delimitavam a fronteira de segurança imposta pelo seus pensamentos e medos. O único pormenor que ressaltava à vista de quem invadisse o seu refúgio seria um pequeno quadro pintado à mão, afixado por cima da sua cama. O desenho era de um cavalo pintando a dois tons, de branco e azul. Um cavalo de príncipes e princesas que sobrevoava os seus sonhos e os sonhos de quem um dia já pertenceu ao seu mundo. Uma lembrança única para quem era convidado a entrar. Em certos dias como este, Matilde sentia-se uma estranha por completo dentro de si mesma, querendo destruir todas as lembranças de promessas feitas, todos os sonhos desenhados e arquitectados na perfeição pela sua cabeça... querendo apenas fugir das responsabilidades impostas pela sua idade e coração. Um cigarro é tudo o que ela precisa, apenas um cigarro para esquecer. Matilde tem por hábito lançar ao ar a seguinte frase: "é tão difícil ser eu" e por vezes ou muitas das vezes, desejamos tanto mas tanto ser outro alguém. O que deverá fazer Matilde para ultrapassar os seus "dias cinzentos"? Será que os nossos medos são mais fortes que os nossos sonhos? O que diriam a Matilde?

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